segunda-feira, 8 de junho de 2009

Picadeiro

O palhaço gritava e rodopiava no ar, lantejoulas caiam de sua roupa conforme ele andava fazendo uma espécie de caminho no chão de terra. Aproximava-se das crianças com certa autoridade, algumas com medo se escondiam, outras valentes riam e caçoavam. Que palhaçada. Suspirei e me voltei para o picadeiro, costumava vê-lo de outra forma as cores eram mais atrativas, tudo parecia mais alto. Como era difícil acreditar que as coisas mudavam que eu mudava. Eu quase conseguia rir do que o palhaço fazia e observando percebi que não era a única que não se interessava por ele na minha fileira, as pessoas que antes riam comigo eu já não conversava mais, pois já havia mudado de fileiras tantas vezes que mesmo quando as via não conseguíamos manter um diálogo, estavam sempre voltadas para a apresentação, para uma apresentação tão estranha. Voltei-me para o palhaço, ele se aproximou de uma das crianças, apertou uma linda rosinha dourada no rosto de uma das meninas, o jato de água foi tão violento que ela ficou atordoada por alguns minutos. Ninguém foi ajudá-la, nem eu. A platéia ria e aplaudia a grande arte que o palhaço havia aprontado. A menina levantou, olhou a sua volta e foi sentar- se em uma fileira um pouco longe do palco, encostou as mãos na cabeça e ficou ali parada, como eu estava a algumas fileiras atrás conseguia perfeitamente observá-la. Meu companheiro de fileira levantou e foi se sentar mais atrás, começou a conversar com outros daquela fila, mas eu não conseguia entender. Percebi que não me interessava mais observar o palhaço, estava na hora de buscar mais, estava na hora de mudar de lugar. DW

Um comentário:

  1. Na busca por melhores lugares de observação, DW, está a caminhada da própria VIDA!
    Que em qualquer lugar eu possa acompanhar suas tão merecidas mudanças!
    Seus textos estão fantásticos, menina-linda!

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