domingo, 25 de novembro de 2012

Meu Grande Amor

A primeira vez que me deparei com a morte devia ter uns dez anos, um senhor, amigo dos meus pais morreu e fomos ao velório na sua casa. Só me lembro de ter passado muitas noites em claro com a lembrança daquele corpo deitado em um caixão, com algodões no nariz, no meio da sala. Mas como não éramos muito próximos, não nutria nenhum grande sentimento por ele e, por isso, sua morte não representou nada em minha pequena vida de dez anos, só grandes pesadelos.
A segunda vez que me deparei com a morte foi há um ano, minha avó paternal faleceu. Apesar de ser minha avó, eu também não tinha grandes laços com ela (espero que meu pai ao ler esse post não pense que eu não a amava, eu a amava sim, mas não foi devastador). Ainda recordo a família reunida no dia do enterro, todos nós emocionados, chorando e minha dinda, que morava com minha avó, estava passando por um grande processo de despedida, arrasada.
A terceira vez que me deparei com a morte foi há um mês, minha avó materna faleceu, e essa foi a minha maior devastação, minha querida, meu amor, minha protegida. Me lembro de ter chegado em casa após a faculdade, dez horas da noite, e o porteiro me avisou:
 "- Sua mãe saiu."
"- Saiu? Para onde?"
"- Eu não sei não, mas ela disse que já volta."
Peguei o elevador, abrindo a porta de casa levei um susto, tudo acesso, televisão ligada, como se tivesse alguém ainda, nem fechei a porta e falei:
"Mãe? Mãe?"
Entrei, fechei a porta, liguei para ela. Ninguém atendia. Sentei no sofá. Chave na porta, ela chegou.
"Mãe, o que aconteceu?"
"Senta aqui, minha filha" Me colocou no sofá. Apesar do seu olhar dizer tudo e eu já saber o que ela iria me falar, eu esperei. "Filha, seu dindo me ligou dizendo que a vovó estava passando muito mal. Ligou para mim e para o dindo Paulo, fomos correndo para lá. Nós chamamos os bombeiros, mas a vovó..."
"O que tem a vovó?" Eu disse na pausa da minha mãe " Ela morreu?"
"Morreu"
Eu cai no choro, nunca pensei que poderia chorar tão rapidamente, nem que o meu chão poderia desaparecer com tanta facilidade. O pior é que eu não conseguia acreditar.
"Mas ela estava bem, mãe! Nós falamos com ela pela manhã"
"Todo mundo falou com ela de manhã, meu bem. Foi um infarto fulminante."
Depois disso eu não queria ficar em casa, meu dindos e meu primo estavam na casa dela esperando a polícia chegar para dar o óbito e eu queria ir para lá. A chegada foi um tanto quanto estranha por que eu não sabia que o corpo da minha avó ainda estava no apartamento, e confesso fiquei com medo de ir até o quarto de primeira, eu já tinha visto um corpo uma vez e não queria me chocar vendo o da minha avó.
Quando nós chegamos, as vizinhas da minha avó estavam na sala, tinham trazido café e lanches para a gente,
foi então que uma delas me abraçou e disse: "Meus sentimentos". As lágrimas brotaram dos meus olhos, por que eu ainda não tinha acreditado na morte dela, eu não podia acreditar.
Depois de um tempo consegui entrar no quarto, os bombeiros tinham colocado ela deitadinha com as mãos segurando um terço, o que eu fiquei mais aliviada é que não me choquei, não me desesperei, minha avó estava tão serena, com uma expressão tão calma que parecia estar dormindo, parecia que a qualquer momento ela iria abrir os olhinhos e ia me dar um daqueles abraços dela, que só avó tem: seguro, protetor, carinhoso. Nós rezamos por ela e depois de algumas horas, levaram o corpo, minha avó ia ser velada em Campo Grande, junto com a sua família, os Barrosos.
Me recordo de deitar a noite e não conseguir dormir, já eram quase 4h da manhã e eu de olhos abertos no escuro, chorando, chorando, chorando. Sem soluços, sem desespero, olhos abertos e lágrimas rolando pelo meu rosto. Rezei:
"Vovó, eu não sei onde a Senhora está agora, mas eu rezo para que você esteja reencontrando toda a sua família. Pode ir, vovó. Não se preocupe com a gente, nós estamos bem, nós vamos ficar bem."
Eu havia deitado com a minha mãe, não queria dormir sozinha naquela noite. Ela percebeu que eu não estava dormindo: "Você precisa tentar dormir, filha"
E depois disso eu dormi.
O dia seguinte foi marcado por muita correria, o enterro foi adiado, depois adiantado e adiado novamente. As amigas da minha avó começaram a brigar comigo pelas mudanças nos horários, só porque eu que atendia o telefone. Família reunida, abraço, lágrimas, sorrisos, lembranças, histórias, lamentações, flores, padres, oração, tempo, tempo, Deus, preocupação, medo, felicidade,..
É estranho, ainda tenho a sensação que vou atender o telefone e vou escutar a sua voz cantando: "Amor, I love you! Amor, I love you" , ou que ela vai aparecer aqui em casa para passarmos a tarde juntas, e que ela vai dizer "eu levo um bolinho sacudido", mesmo com ninguém comendo mais os bolinhos na hora do lanche.
Tenho medo de esquece-la, tenho medo que nossas memórias se apaguem com o tempo, ainda tenho medo de dizer tchau, que falta ela me faz, um vazio que ninguém e nada preenchem...  hoje, mais do que nunca, eu tenho certeza, perdi o meu grande amor, minha avó, minha amiga,...e nada, nada me faz esquecer o quanto ela faz falta em minha vida.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

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Que saudades dela....2 meses